Este, é um espaço não oficial.


ESTE É UM ESPAÇO NÃO OFICIAL.
Bem vindo. Serve este espaço para divulgar acções, noticias ou acontecimentos relacionados com o CI em particular e com a PSP em geral, e ainda, assuntos que de alguma forma, para nós, tenham alguma importância a nível profissional, social e/ou cultural...

Todos poderão participar, mandem artigos para serem publicados na página principal para a.fortiori.ci@gmail.com

Guestbook LIVRO DE VISITAS

“Secos e molhados” foi à 25 anos

"O 21 de Abril, por força da razão, pelas inúmeras etapas deste longo caminho terá de constituir enorme referência, em primeiro lugar, por parte dos polícias, simultaneamente, por parte de qualquer instituição e, em geral por parte de todos os cidadãos.

Faz hoje 25 anos que a conhecida manifestação dos «secos e molhados» que terminou com a detenção de seis elementos sindicais da polícia.
Fica o Testemunho na 1ª pessoa por parte de quem sentiu o "peso" da ordem dada... in “O crachá/Abril 2009/ Edição Especial”

" (...) O confronto por si só, entre polícias é já de si algo impensável e inquestionavelmente muito violento visto de fora, como largamente foi desenvolvido pelos media. Mas visto por dentro, por alguém que estava dos dois lados, que se sentiu molhado e seco, é naturalmente mais violento.(...)"

   O 21 de Abril de 1989 decorreu num contexto muito próprio típico do culminar dos processos que deixam de ter condições para se susterem a si próprios.
  Portugal e os seus governos deixaram de ter condições para suster a marcha da verdade, da razão e do progresso neste domínio muito particular referente à consagração do associativismo nas forças de segurança. Não era possível conter por mais tempo a legalização de um processo que a maioria dos cidadãos considerava absurdo, sem explicação e sobretudo que a constituição previa. Porque motivo não haviam os polícias, à semelhança de todos os restantes cidadãos, de ter a sua organização representativa?

  O acontecimento que marcou esta transição entre clandestinidade e legalidade do movimento sindical na polícia, ficou marcado e posteriormente conhecido,pelo incidente ocorrido, na tarde do dia 21 do mês de Abril de 1989, no Terreiro do Paço, entre polícias que se reuniam em frente do Ministério da Administração Interna, depois de desfilarem até ali desde a “Voz do Operário”,e os colegas do Corpo de Intervenção.
.
.
Secos e molhados” é assim que as pessoas recordam aquele dia. Os primeiros foram inicialmente atingidos com canhões de água provenientes de potentes carros de água do Corpo de Intervenção. Mais do que molhados, ficaram totalmente encharcados por resistirem corajosamente a este primeiro ataque, demonstrando assim que com água jamais dali dispersariam. Os segundos, os elementos do corpo de intervenção que receberam ordens da parte do governo para dispersar os colegas, ficaram conhecidos como os secos, os polícias que molharam os colegas, que atiçaram cães para os atacarem e foram atacados e que, por fim, utilizaram os seus bastões para os obrigarem a desfazer a concentração e a abandonar o local em frente ao MAI, dando assim por cumprida a missão que culminou com a detenção de seis colegas da Pró-Associação Sindical dos Profissionais da PSP.

 Foi efectivamente uma tarde muito difícil para ambos os lados. O confronto por si só, entre polícias é já de si algo impensável e inquestionavelmente muito violento visto de fora, como largamente foi desenvolvido pelos media. as visto por dentro, por alguém que estava dos dois lados, que se sentiu molhado e seco, é naturalmente mais violento. Na altura, a média das idades dos operacionais do Corpo de Intervenção andava na casa dos 27 anos, éramos muito jovens. Até aquela data, eu tinha inscrito cerca de 221 operacionais nas listas clandestinas da Pró-Associação Sindical dos profissionais da PSP. A larga maioria manifestava interesse em associar-se mas receava fazê-lo devido a um clima de enorme pressão e medo que reinava na instituição e, em particular numa unidade com aquelas características. Um mês depois do 21 de Abril, éramos 487 associados, num total de cerca de 800 homens daquela unidade especial de polícia.

O ambiente dentro da unidade era de uma enorme coesão e compreensão pela luta que se vinha travando em prol da legalização do movimento. Dentro da unidade, um punhado de homens que recordo com saudade pela sua valentia, coragem, determinação e inteligência, com que me apoiaram na construção, cuidadosa, de um ambiente de aceitação, compreensão e pertença ao movimento que cá fora aumentava. Por este motivo, a participação dos elementos do Corpo de intervenção foi um acontecimento duplamente violento. Duplamente violento porque a grande a maioria daqueles operacionais eram associados e simpatizantes da Pró-Associação Sindical, percebiam a justeza daquela luta e não viam porque motivo teriam de ser chamados para uma intervenção daquele género, pois nada daquilo lhes parecia ilegal e a razão da sua intervenção tinha que ter este requisito como justificação do uso da sua força. O ambiente na unidade era naturalmente muito pesado. Naquele dia cheguei ao Corpo de Intervenção às 04H25 devido a preparativos onde tinha estado envolvido para a preparação dos trabalhos da Pró-Associação Sindical. Tudo decorreu com normalidade, logo no encontro ao pequeno-almoço, as palavras foram mais contidas. A comunicação social estava a fazer uma larga cobertura das atividades da Pró-Associação Sindical, tendentes a criar as condições para uma grande reunião na “Voz do Operário”. Alguns dos media avançavam prognósticos de que os polícias, após a reunião se deslocariam para junto do MAI, onde se pretenderiam concentrar até que uma delegação constituída por vários dirigentes entregasse uma moção no Ministério.

  Dentro da unidade as poucas palavras andavam à volta da questão “eles vão descer até ao Ministério?” Fui informando que tal decisão dependia da decisão tomada pelos colegas em plena reunião, mas que era provável. Depois do almoço, a sala da televisão ficou repleta, de tal modo que houve colegas que ficaram na rua para poderem ver o destaque que os telejornais davam ao acontecimento e, concretizava-se cada vez mais o previsível. Tudo indicava que os colegas se encaminhariam para uma decisão no sentido de acompanhar os colegas da direção a entregar a moção no MAI. Rádios, jornais e televisões, davam destaque ao acontecimento e instalavam-se no Terreiro do Paço. Durante a manhã, foi visível um movimento estranho e inédito na unidade com colegas dos serviços de manutenção e apoio a prepararem os seus fatos e materiais de intervenção. Nunca tinha visto estes colegas, que há alguns anos tinham deixado de integrar as companhias operacionais, vestidos com os fatos operacionais que envergavam os elementos que pertenciam aos PAM – Pelotões de Alerta Máximo, com um grau máximo de prontidão. Naquele dia, por grande coincidência, eu integrava um PAM. De dentro das camaratas saíam cada vez mais elementos vestidos a rigor com estes fatos. Os operacionais olhavam-se num ar de surpresa para estes colegas que até ali estavam nos serviços de apoio e que se olhavam de alto a baixo esboçando aqui e acolá um sorriso pela oportunidade que lhes era dada.

  O Candeias Cordeiro e o Sousa ultrapassaram vários colegas num passo atlético e ao chegarem ao cima da parada encontraram- me ofegantes. “Marçal o que vai acontecer?“ e olhavam a parada sul cada vez mais cheia de operacionais, que naquele dia se multiplicavam a cada instante. Tinha acabado de ir à parada norte e vi os caros da água todos perfilados e os colegas da sua manutenção a fazer os últimos preparativos. Por momentos, o ambiente era de uma tensão enorme, já não se falava e temia-se o pior. Chegou-nos a ordem de formatura na parada norte e a calma com que tudo se pretendia fazer era uma ilusão difícil de conter. Formámos sem pressas de modo a que tudo fosse o mais discreto. A companhia estava largamente aumentada com os colegas dos serviços de manutenção e apoio. Estavam ali todos os carros de água e, pouco depois, chegavam os colegas do Grupo Operacional Cinotécnico, com os cães.

 O Américo Mateus Amaro, destacável operacional com quem momentos antes me cruzei junto à messe de graduados, sorriu confortavelmente e eu achei aquele gesto estranho. Seguramente dispunha de alguma informação que me escapava, pensei na altura.
  Depois de sermos informados que iríamos concentrar em frente à Câmara Municipal de Lisboa, onde se previa que, nas imediações, decorresse uma concentração de colegas da Pró- Associação Sindical, recebemos a ordem para entrar para as “carrières”, veículos de intervenção que nos transportaram ao local. Sentámo-nos nos nossos lugares do costume e até lá não se falou alto, olhávamos em frente ou para o chão, olhar baixo e peito menos esticado.
.
.
  Ao chegar junto da Praça do Município, fiquei surpreendido e contente com a quantidade de cidadãos ali presentes e dei conta que, durante o dia, não me tinha apercebido do real impacto que a reunião dos polícias tinha provocado na população. Algumas pessoas voltavam-se para nós, sorriam e com os dedos faziam-nos o V da vitória. As câmaras procuravam filmar esses gestos e as nossas reações.

 O ambiente era muito difícil. Num dado momento, apercebemo-nos que os colegas da Pró-Associação Sindical tinham chegado. À sua chegada, ouviram-se palmas, os cidadãos e jornalistas andavam num rodopio entre a Praça do Comércio, onde os polícias se concentraram, e a Praça do Município onde estavam estacionadas as carrinhas do Corpo de Intervenção. Os minutos dentro das carrinhas pareciam eternos, em silêncio, todos pensávamos o mesmo, que tudo se resolvesse sem ser preciso sairmos para a rua. Mas o momento indesejável chegou. “Vamos sair”, disse o comandante do PAM. Na rua, o meu pelotão alinhou na frente da companhia com a minha secção em primeiro lugar. Progredimos lentamente à medida que deixávamos a Praça do Município. Pouco depois de entrar na Rua do Arsenal, assistimos à projeção dos canhões de água sobre os colegas. Muitos dos colegas que estavam nos comandos dos canhões de água não tinham experiência sobre este trabalho, era a primeira vez que o faziam e a instrução recebida era insuficiente. Fosse por este motivo ou por outro, muitos dos jatos de água não incidiam sobre os colegas, passavam-lhe muito por cima provocando sobre eles um efeito de chuva intensa. Outros, atingiam-nos com elevada violência. Atrás dos carros de água e já numa segunda tentativa para dispersar os colegas que resistiam aos canhões de água, apercebi-me da ação dos cães que os colegas, com muita dificuldade, atiçavam contra os colegas mas que os pobres bichos, confusos por verem as mesmas fardas, teimavam em não agredir. Conhecia todos aqueles colegas, eram companheiros de profissão, colegas das mesmas causas. Resistiam corajosamente a tudo aquilo de tal maneira que num momento deixei de pensar onde estava e fiquei impávido perante aquele cenário.
 Do outro lado, alguns colegas gritavam o meu nome, a minha secção deu um passo atrás, foi a confusão total. Envolvemo-nos todos num ambiente de tamanha confusão com os colegas da Pró-Associação Sindical a apelar insistentemente à nossa calma, um abraço a um e outro colega, tristeza, indecisão, angústia e tudo o mais ali era visível. Momento de enorme indecisão e dificuldade, pois a missão que nos levara a li parecia impossível. O comandante do Corpo de Intervenção voltando-se para mim e, vendo que não tinha pegado no meu bastão gritou-me num tom ameaçador: “Para quê que quer o bastão? Logo não entra na unidade!” Nem tinha dado por tal, olhei-o e nada disse. Foi muito difícil reunir os operacionais. Tinha a sensação que a nossa intervenção poderia ter sido evitada e tudo aquilo me parecia inútil. Pelas 00H25 do dia seguinte, já dentro da unidade, fomos chamados ao grande refeitório dos agentes onde o senhor General Amílcar Morgado, Comandante-Geral da PSP na altura, se nos dirigiu para enaltecer a missão muito difícil que o Corpo de Intervenção e os seus operacionais tinham levado a cabo. Esse momento foi igualmente muito difícil. O senhor general teve dificuldade em falar sob um sussurrar dos agentes e graduados envolvidos no incidente.
.
.
  O sentimento era de revolta pela situação em que tínhamos estado envolvidos, nada nos parecia justificar tal situação. Na unidade, os dias que se seguiram foram igualmente de tensão entre quem tinha atuado e quem se tinha abstido. Lá fora, nas esquadras, perdurou, por algum tempo, um ambiente de certa animosidade em relação aos colegas do Corpo de Intervenção, apesar de a Pró-Associação Sindical se desfazer em iniciativas e comunicados apelando à compreensão de todos os polícias para entenderem o papel que tinha sido atribuído aos colegas do Corpo de Intervenção. "

Álvaro da Silva Marçal
Secretário da Assembleia Geral da ASP/PSP

in“O crachá/Abril 2009/ Edição Especial”
Ver edição completa AQUI

Detido homem que baleou duas pessoas e se barricara em casa


A PSP de Lisboa deteve um homem que alvejou duas pessoas num estabelecimento comercial em Lisboa e depois se barricou em casa.

O caso ocorreu na noite de último sábado. O suspeito envolveu-se em desacatos com um grupo de indivíduos que conhecia, na Travessa da Boa hora à Ajuda, em Lisboa. Foi a casa, pegou numa arma de fogo e voltou ao local, abrindo fogo. Dois homens ficaram feridos e tiveram de receber assistência médica.

Deslocou-se para a sua residência e ali se barricou, antes de efetuar disparos para a rua com uma pistola de calibre 6,35mm.

Um perímetro de segurança foi montado no local pelas autoridades e para ali foram mobilizados o Grupo de Operações Especiais (GOE), Corpo de Intervenção (CI) e Grupo Operacional Cinotécnico (GOC).

Os negociadores da polícia não conseguiram fazer com que o homem se entregasse pacificamente e foi uma intervenção tática do GOE, sem recurso a meios letais, que levou à detenção do suspeito.

fonte "a bola" 14Abr2014